Nossa Cultura

Nossos avós resistiram. Seguindo os passos deles, nós também resistimos.

Para o nosso povo A’uwe, tudo que acontece na história acontece, também, nos sonhos.

Pelos nossos sonhos, aprendemos as coisas que nos ensina o nosso rio. Aprendemos as coisas que nos ensinam as plantas. Aprendemos as coisas que nos ensinam os animais. Aprendemos as coisas que nos ensinam nossos antepassados.

Não faz muito tempo, nossos avós viviam ao redor dos caminhos que fazem a nossa terra, mas sonhavam com esse povo diferente que vivia a leste. Eles sabiam que os waradzu viriam até nós, e que haveria guerra.

Para enfrentar os waradzu, nossos avós nos ensinaram a sonhar com o rio, com as plantas e os animais do cerrado. O ró nos deu a força para lutar pela demarcação dos nossos territórios.

O waradzu, no entanto, construiu rodovias e criou vilas e cidades. Nossa terra foi recortada, nosso povo foi dividido.

Para nós, hoje, está cada vez mais difícil caçar, pescar e coletar frutos do cerrado. Nosso povo depende dos produtos da cidade, e vive uma crise alimentar e de saúde.

Nós, na Associação Xavante Warã, sabemos o futuro do povo A’uwe, e de todos, depende do cerrado de pé, do nosso rio vivo, e da nossa terra protegida. Por isso, lutamos pela integridade das terras A’uwe, desenvolvendo projetos de recuperação de áreas degradadas, de proteção de nascentes e de valorização das atividades tradicionais de caça, pesca, coleta e a realização de rituais.

Esses projetos são parte de nossa luta para que nossa cultura esteja sempre fortalecida, e que os jovens sigam aprendendo o que nos ensinaram os nossos avós: a sonhar com o ró, e a resistir como povo A’uwe-Xavante.