Nosso Rio

Mesmo depois do “contato”, firmamos nossas aldeias na margem do rio, e o vigiávamos.

Os waradzu lhe dão esse nome, “rio das Mortes”, mas para nós ele é muito vivo.

O Öwawe, como o chamamos, é parte dos nossos territórios, é parte de nossa terra, é parte do nosso povo.

Nós, os A’uwe, habitamos as suas margens, desde sua foz no rio Araguaia até as cabeceiras, no estado do Mato Grosso.
Os nossos avós já defendiam o Öwawe. Quando os primeiros waradzu chegaram, encontraram suas flechas pregadas na praia, como um aviso para que eles não se aproximassem.

Funcionários do SPI chegam ao Rio das Mortes (década de 1940)

Discussões sobre manejo ambiental e recuperação de nascentes. TI Sangradouro/Volta Grande, 2023.

Mesmo depois do “contato”, firmamos nossas aldeias na margem do rio, e o vigiávamos.

Assistimos, dali, o ró ser derrubado para abertura de grandes fazendas. O governo recortou as nossas terras com rodovias, criando vilas e cidades no entorno dos nossos territórios. Não respeitaram as nascentes nem os olhos d´água, e agora já quase não há peixes. Nosso rio está secando. Suas águas são desviadas para irrigar a soja, e contaminadas pelo veneno que jogam nas plantações.

As mesmas empresas que derrubaram o cerrado para plantar soja querem concretar o nosso rio e os seus afluentes para construir, neles, usinas hidrelétricas. Há mais de 20 projetos de usinas hidrelétricas previstas para a bacia do rio das Mortes.

Nós lutamos pela participação de todos os A’uwe na avaliação dos impactos desses projetos, e pelo direito de consulta livre, prévia e informada, em defesa da vida do rio Öwawe.

No começo dos anos 2000, resistimos à construção das hidrelétricas Toricoejo e Água Limpa. Nossa luta foi vitoriosa, e esses projetos foram considerados inviáveis em razão do impacto que causariam sobre nossa terra e nossa cultura.

Não tardou, contudo, para que uma empresa apresentasse pedidos de licenciamento de quatro outras hidrelétricas. Agora, nos mobilizamos para exigir a avaliação dos impactos das PCHs Entre Rios, Vila União, Cumbuco e Geóloga Lucimar Gomes, e seguimos resistindo aos projetos de destruição do nosso rio.

A Associação Xavante Warãluta para que o Öwawe seja protegido como um patrimônio cultural e ambiental do povo A’uwe e de todos os brasileiros. Queremos um rio das Mortes vivo!

Rituais de iniciação dos jovens wapté. Ti Parabubure, 2023.